Engraçado como em determinadas situações a maior parte das pessoas não consegue manter a boca fechada, mesmo estando diante de um completo estranho. Parece existir um acordo tácito, sempre que ameaçadas pelo silêncio constrangedor danam a falar sobre trivialidades. De minha parte sou favorável ao silêncio total, ao menos é espontâneo. Essa tagarelice é muito comum entre barbeiros e motoristas de táxi, talvez pensem que pelo dinheiro gasto o cliente merece o bônus duma conversinha fiada. O dano máximo que pode ocorrer durante o corte de cabelo é ter decepado um pedaço da orelha, perigo mesmo é o motorista se empolgar muito com o debate e ir de encontro a um poste. Os diálogos esdrúxulos também podem surgir em filas e na hora de pegar o elevador. No dia seguinte à semifinal contra a Turquia, vivi um momento do tipo. Por não ser um bom fisionomista, tive sérias dúvidas sobre a identidade do morador que dividiu o elevador comigo, mas ele parecia saber bem quem eu era:
- Oi! Tudo bom?
- Oi... tudo.
Após um curto intervalo ele voltou à carga:
- Esfriou bastante, né?
- Pois é...
- Mas acho que amanhã vai fazer sol.
- ...
- E o Brasil, hein? Será que dá pra ganhar?
Ponderei por alguns milésimos de segundo se ficaria bem revelar que eu não sou propriamente um entusiasta da Seleção. Mas preferi evitar polêmicas e dar uma resposta padrão:
- É... vamo vê...
- E o Ronaldo ontem? Que coisa!
Não entendi bem se ele estava elogiando ou criticando, melhor não arriscar então:
- Uhum...
Depois do que me pareceu um século de espera, ele chegou no seu andar:
- Tchau! Vamo torcê, hein!
- (murmúrio incompreensível)...
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